O reino dos céus é assim,
Como um homem de valor,
Que ao romper da madrugada
Saiu com grande fervor,
Buscando, na praça vazia,
Trabalhadores com ardor.
Com eles fez um acerto,
Um dinheiro por o dia.
Mandou-os à sua vinha,
Com alegria e energia.
Ali o serviço é justo,
Recompensa sempre havia.
Perto da hora terceira,
Voltou o homem ao lugar,
E viu outros ociosos
Sem saber onde trabalhar.
E disse: “Ide à minha vinha,
E o justo irei vos pagar.”
Esses homens prontamente
Se puseram a laborar,
Na vinha do bom patrão,
Com vontade de ganhar
O que é certo e o que é justo
Por seu suor a dedicar.
Mas o senhor da fazenda,
Não cansado de buscar,
Voltou na hora sexta e nona,
Novos braços a chamar.
Para a vinha os enviou,
Com promessa de honrar.
Quando veio a hora undécima,
Achou mais em ociosidade.
"Por que estais assim parados,
Sem servir à humanidade?"
Disseram: "Ninguém nos quis
Dar trabalho, dar vontade."
E então, o bom patrão,
Com coração a pulsar,
Disse-lhes: "Ide à minha vinha,
E o que é justo irei pagar."
Mesmo tarde no trabalho,
Nenhum esforço é vão dar.
Quando veio o fim do dia,
O patrão deu a instrução:
"Chama os que trabalharam,
Paga a todos, sem distinção.
Começa pelos últimos
E vai até a primeira mão."
Aqueles da hora undécima,
Que só uma hora se deu,
Receberam um dinheiro,
O salário prometeu.
E os que vieram primeiro,
Pensaram: "Mais nos cabe, é meu."
Porém, quando seu salário
Igual ao dos últimos foi,
Começaram a murmurar:
"Não é justo o que se impôs!
Trabalhamos o dia todo,
Sob o sol que nos corroeu."
Disseram ao bom patrão:
"Como podes igualar
Os que por uma só hora
Vieram só para descansar?
Nós sofremos o calor,
Dessa paga queremos mais."
O patrão com paciência,
Olhou-os com compaixão,
E disse: "Amigo, ouve,
Não te faço eu traição.
Acordamos um dinheiro,
E te dei o que é bom.
Não posso eu ser generoso,
Com aquilo que me é meu?
Por que tens o olho mau
Se o coração meu floresceu?
Quero eu pagar a todos,
E a justiça aqui se deu."
"Assim os primeiros últimos
Se tornarão, e os últimos,
Primeiros também serão.
Pois em Deus há sempre espaço
Para todos os chamados,
Com o mesmo coração."
Muitos, sim, serão chamados,
Mas os escolhidos são,
Aqueles que com humildade
Aceitam a missão,
E trabalham com pureza,
Sem olhar a divisão.
O que vale no reino santo
Não é o quanto se fez,
Mas a graça que se dá
A quem o tempo perdeu,
E mesmo em última hora
Com alegria compareceu.
Essa história nos ensina
Que não é o mérito, não,
Que no reino dos céus conta,
Mas o amor em ação.
O que importa é a entrega
De quem se dá com o coração.
Assim é o Pai Celeste,
Generoso em Seu tratar,
Ele acolhe a quem chega
Mesmo no final do andar,
Pois a salvação é graça,
E é Ele quem vai julgar.
Então, amigo, escuta:
Não te firmes no labor,
Como se apenas o esforço
Te levasse ao Salvador.
É Deus quem dá a todos,
Seu perdão e Seu amor.
E quando o último chega,
Com alma ainda cansada,
Ele o acolhe em seus braços
Com alegria esperada.
Pois no reino há lugar,
Para a colheita preparada.
Os primeiros e os últimos,
Na mesma mesa vão sentar.
Não importa a hora exata
Que começaram a andar.
O que importa é o convite
E o amor que vão mostrar.
O reino é de justiça,
Mas também de compaixão.
E o Pai que tudo vê,
Nos dá sem hesitação.
Os derradeiros primeiros
Serão na sua eleição.