CORDEL DO CANSAÇO

Eu já não suporto mais
De política falar
No comando maioral
Ninguém faz pra governar
O povo sem saber nada
No cabo de sua enxada
Só quer mesmo é plantar.

Vou correndo publicar
Depois de tomar café
Em seguida divulgarei
No peito brotando fé
O que eu tenho pra dizer
Dê riso, não vá sofrer
Te peço não bata o pé. 

Fui na Praça da Sé
Eu só queria ouvir
O que tinham pra mostrar
Deu vontade de sumir
Era todo mundo triste 
Dizendo que o mal insiste
O melhor era fugir. 

Não faz sentido partir
Para ver nascer o sol
O que brilha aqui agora
Não pode ficar pior
A desgraça anda plantada
Luta brava está parada
Vamos desatar o nó.

De fingir me cai suor
Pensando no jaburu
Que se plantou no poder
E lhe chamam de cururu
No governo da miséria
Nessa mesa só bactéria
Cresce mais do que Itu.

Minha nobre Caruaru
Que saudade de você
Aqui nesta cidadela
Não tenho nada a vencer
Esse povo perdeu a luta
Pra tirar a má conduta
Que enfraquece o viver.

Não sei mais o que fazer
Por tudo que se passou
Juntos seremos muitos
Não diga que fracassou
Pegue sua munição
Bote bem no coração
E cante com seu fervor. 

Você nunca enfrentou
A farta contradição
O que propôs acabar
Resta numa corrupção
Tamos anestesiados
Nas mãos destes condenados
Nós somos a perdição.

Destruíram a educação
Não sabemos explicar
A escola se transformou
Palco pra dramatizar 
Os homens de paletó 
Não passam de ser mocó
Deixam tão cedo estudar. 

Nós vamos é enfrentar
Este peste governante
Vamos levantar bandeira
Seguindo sempre avante
O país só faz desordem
As corrupções explodem
No sistema mais errante. 

Eu fui caçar e fui pedante
No sítio do velho Bragança
Esperando ser julgado
Pra chegar vã esperança
Na conduta do que fiz
Pensando ser uma criança.

Nada se faz por vingança
Na vida do condenado
Tentaram me combater
Por muitos fui sabotado
Sem respostas para dar
Meu pensar desesperado. 

Meus estimados leitores
Que gostam de ler cordel
Fiquem certos na leitura
Não vão fazer escarcéu 
Espero que tenham lido
Pra não serem metidos
Se vendo neste bordel.

Amantes das nobres letras
Sintam-se bem contemplados
Arregacem suas mangas
E defendam os letrados
Assumam as condições
Deixem todas emoções
Entre todos os sobrados. 

Cansaço que  chega à mente
Estraçalhando pensamento
Meu pensar já fez de tudo
Pra viver nesse momento
Sou um ser despreparado
Preciso ser preparado
Só não topo fingimento. 

As árvores do cercado
Que dão sombra para gente
Cada verde que é dela
Esbanja tão docilmente
O meu sertão é padroeiro
Deste povo brasileiro
Neste lugar de serpente.

Eu vou tentar descrever
As Bravuras de Miguel
Prisioneiro cubano
Do capitão Josiel
Preso sem nenhuma prova
Diz chorando Rafael.

Rafael irmão mais novo
Deste nobre comunista
Que já tinha sido tudo
Um famoso congressista
Defensor dos oprimidos
Fiel parlamentarista. 

Parlamentarista bom
Grande Miguel de Cabana
Foi revolucionário
De Pedro Basto Carvana
Um líder comunitário
Perseguido das Havana.

Havana é capital
Onde nascem os guerreiros
A política de luta
Que sacodem forasteiros
Respeito pro Ser Humano
Todos nós somos herdeiros.

Herdeiros são deste tempo
Precisões todas urgentes
Homens chorando nos cantos
Sorrisos brotando mentes
Cidades são destruídas
Impérios intransigentes.

Intransigentes são maus
Dos percalços desses sonhos
Vivem querendo sossego
Perturbando vãs tristonhos
Os homens são mais culpados
Por não vencer os medonhos.

Medonhos olhos castanhos
O Miguel presenciou
Descendo ladeira torta
Uma lágrima brotou
A prisão deste guerreiro
Toda Pátria não gostou. 

Gostou sim, quem o prendeu
Entregando sem critério
O povo cubano triste
Sem entender o mistério
O Miguel não merecia
Na vida ter impropério. 

Impropério é o nome
De quem cria dissabores
Rafael ficou calado
Dissolvendo suas dores
Esta multidão raivosa
Gritava pros opressores. 

Opressores sorridentes
Batiam na multidão
Chicotadas eram dadas
De cortar o coração
O Miguel ficava surdo
Não quis ver a confusão. 

Confusão tem tudo a ver
Neste mundo bem atual
A prisão foi o motivo
Mas nada ficou normal
Miguel vive sofrendo
Com a cabeça genial. 

Tenho por vossa senhoria
Um pretexto pra gostar
Se gosto nem sei de quê
Só não poderei falar
Eu vou gravar na tua mente
A semente que vai ficar. 

POR: BENTO JUNIOR