Me enganei com minha noiva - cordel

revista de cordel Me enganei com minha noiva.



Luiz Campos
 
Quando sortero eu vivia
Era o maió aperrei
Divido eu sê muito fei
As moça num mi quiria
Quando prum forró eu ia
Cum quarqué colega meu
Eles confiava n’eu
Ia bebê e dança
No fim da festa arenga
E quem ia preso era eu.
 
E pra arranjá namoro
Eu toda vida fui mole
Cantei samba puxei fole
Usei um cabelo louro
A boca cheia de ouro
Chega briava de dia
Quando prum forró eu ia
Cherava cumo uma rosa
Mas se eu caçava uma prosa
As moça num mi quiria.
 
Eu dizia é catimbó
Que arguém butou i num sai
Que mãe casou cum papai
Vovô casou cum vovó
Inté meu irmão Chicó
Munto mais fei di que eu
Namorou, casou, viveu
Cum duas muié inté
Só eu num acho muié
Qui queira se esfrega n’eu.
 
Um dia Deus descuidô-se
E o satanás se esqueceu
Qui Vicença oiou prá eu
Cum uns oião de bico doce
Nossos zói se misturô-se
Cuma feijão com arroz
Se abufelemo nois dois
Num amô tão violento
Qui maiquemo o casamento
Prá quato dia dispois.
 
No dia de se amarrar
Se amarrou eu e ela
Dei de garra da mão dela
Fui prá igreja casá
Cheguei nos pés do artá
Recebi a santa bença
Jurei num ter desavença
Entre eu e minha esposa
O pade disse umas cousa
E eu fui vivê mais Vicença.
 
Cheguei im casa mais ela
Fui logo mi agazaiando
Qui mermo eu ia pensando
Qui ia drumí na costela
Vicença fez uma novela
Pru dentro da camarinha
Quebrou uns troçim qui tinha
E mi amiaçou na bala
Ela foi drumi na sala
E eu fui drumi na cozinha.
 
Da vida eu perdi o gosto
Pru que Vicença fez isso
De manhã fui pro selviço
Mas prá morrê de disgosto
Cheguei im casa o sol posto
Vicença mi arrecebeu
Inté um café ferveu
Butou prá nóis dois ciá
Mas quando foi se deitá
Nem siqué oiou prá eu.
 
De Deus eu perdi a crença
De nome chamei uns trinta
Butei uma faca na cinta
Fui cumversá mais Vicença
Vicença deu a doença
Quando eu falei im amô
E pergunto o sinhô
Pensa qui eu sou o quê?
Só mi casei cum você
Prá lhe fazê um favô.
 
Bati cum ela no chão
Puxei a lapa de faca
Cortei-lhe o cóis da casaca
E o lastro do carção
Vicença tinha razão
De num querê bem a eu
Num era cum nojo d’eu
E nem proquê fosse séra.
Sabe Vicença o que era?
Era macho qui nem eu.
 
Eu munto me arrependi
Pruquê mi casei cum ela
Falei logo cum o pai dela
E di manhã devorvi
Grande desgosto eu senti
Qui quage murri inté
Homem im traje de muié
Tem munto de mundo afora
Só caso cum outra agora
Sabendo logo quem é.

Ivaldo Fernandes

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